Igreja de São Pedro e sua história em Santíssimo na Zona Oeste
Descrição: Templo tem estilo romano, representado, em sua fachada, um bloco central mais avançado, e segmentos laterais que se prolongam pelas torres gêmeas. Tem a fachada voltada para a antiga Real Estrada de Santa Cruz, onde hoje fica o leito da linha férrea. O bloco central apresenta a porta de entrada principal acessada por três degraus, com duas folhas de madeira trabalhada, tendo cada uma em seu centro em entalhe um símbolo relativo a São Pedro – as duas chaves cruzadas.
De cada lado, há um belo nicho em arco com colunas laterais, encimados por um símbolo também presente na maçonaria – duas mãos dadas em sinal de solidariedade – guardando à esquerda a imagem de São Pedro, e à direita, a de São Miguel Arcanjo, tudo esculpido em pedra.
Acima ficam três janelas em arco, a central maior, que corresponde ao coro. Mais acima, termina o bloco central em frontal triangular com base em arco, tendo um olhal ovalado do tipo uma grande cruz de concreto iluminada no cimo. Os segmentos laterais das torres apresentam as portas lateral, que correspondem aos corredores da nave. Mais acima, há uma janela em arco de cada lado, correspondendo às galerias laterais; mais acima, há aberturas vazadas em arco do campanário terminando em beirais decorativos com pináculos nos quatro cantos e cobertura piramidal encimada por pequena cruz de concreto. O campanário da esquerda abriga um sino. Todo o conjunto é pintado na cor branca, dando grande realce ao mesmo.
Internamente, há um pequeno átrio sob o coro que se prolonga pelas laterais da nave, pelas galerias, com sacadas de madeira. A nave é quadrada, com teto abobadado, apresentando uma grande rosácea no centro, de onde pende um grande lustre de cobre com vários pontos de luz. Ao redor, há diversos símbolos de São Pedro, com a casa cruzadas, o barco, a cruz invertida de seu martírio, o galo, a palma, sua cátedra, etc. De cada lado, há corredores laterais sob as galerias, com uma coluna que forma dois arcos, correspondendo a dois arcos das sacadas das galerias. Nas paredes dos fundos dos corredores, que fazem ângulo com o presbitério, de cada lado há um belo nicho com colunas jônicas e frontal triangular, com pequenas imagens, já que as originais foram roubadas no saque da década de 20 do século passado.
A esquerda, fica a imagem de Nossa Senhora de Fátima; à direita, a de Nossa Senhora Aparecida. Nos fundos da nave fica o espaço central do presbitério, em nível elevado por dois degraus, com paredes laterais em curvas, tendo cada uma, um belo púlpito decorado com dossel. No centro fica a mesa de celebrações, e no fundo do altar, em forma de bela Capela com colunas jônicas e frontal triangular, encimado por uma cruz, um espaço que guarda a imagem do padroeiro, São Pedro. Mais acima, vê-se o grande brasão de São Pedro, representado por chaves cruzadas como barrete de Cardeal ao centro. Nas paredes laterais do presbitério há portas, à esquerda, para a sacristia; à direita, para as salas de catequese. Acima delas, vê-se uma tribuna decorada. Atrás do altar, há um corredor que liga a sacristia à sala de catequese. Na nave há ainda várias calhas de luz fluorescente.
Externamente, à frente da Igreja, há um grande adro com portão largo de ferro, tendo ao centro um antigo e grande cruzeiro em bela base, tudo esculpido em cantaria. Há também grandes blocos de pedra que formavam uma amurada à frente do adro. À esquerda, há um pequeno coreto e um corredor para os fundos. A direita, há uma pequena construção com cantina e banheiros. Mais aos fundos, no limite do terreno, há uma construção em “L” que no passado foi Casa Paroquial e atualmente é a casa do zelador. Mais à esquerda, há uma pequena construção com um depósito. Nos fundos, a Igreja apresenta duas portas laterais, para a sacristia e para as salas de catequese. Todas as esquadrias são constituídas em cantaria, bem como a calçada em torno da Igreja.
Histórico: Segundo os documentos mais antigos, a história da Igreja e São Pedro faz referência ao século XVIII, mais precisamente a 1759, quando, no local do atual Templo, o Engenho do Santíssimo, na Fazenda do Lamarão depois Lameirão), existia uma Igrejinha dedicada ao Senhor Bom Jesus do Amado e Nossa Senhora da Conceição, construída por seu proprietário, o Sr. Manuel Antunes Suzano, em 24 de novembro de 1744, perto da casa grande da fazenda. O pequeno Templo foi construído com a frente voltada para a atual linha férrea, onde, na época, deveria existir uma estrada das fazendas da região e que mais tarde serviu de leito para a Real Estrada de Santa Cruz.
Durante o ano de 1794, o Mons. Pizarro, em visita pastoral à Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande, registrou que o Templo do Senhor Bom Jesus precisava de reformas urgentes, pois estava prestes a ruir. Na época deve ter havido uma boa reforma, garantindo a persistência do Templo. Em 1814, houve a construção da Real Estrada de Santa Cruz, que ligava o Paço Imperial ao Palácio de Veraneio da Família Real, em Santa Cruz. Contam que D. Pedro II, quando se dirigia para seu palácio em Santa Cruz, pernoitava na Casa Grande da Fazendo para descanso e oração, quando rezava o Santíssimo Sacramento, daí alguns acreditarem que o nome do Bairro – Santíssimo – teve origem nesse fato, Hoje, restam do casarão cerca de 70% de sua construção original, ainda sendo possível verificar ali vestígios daquela época, como a senzala e outros.
Com o fim da escravidão, a aristocracia latifundiária do Rio de Janeiro aprofundou-se em seu declínio. Consequentemente, a Capela do Senhor Bom Jesus do Amado e Nossa Senhora da Conceição caiu em profundo abandono. No início do século XX, em 1908, a Sra. Júlia Campos de Oliveira Ramos, comprou as terras da fazenda Lamarão (depois Lameirão ) do Sr. Arthur Torres. Foi essa senhora, uma espécie de cortesã do Reino do Brasil, presa ainda a valores passados, que reconstruiu a Igreja, não poupando esforços para torná-la luxuosa e rica. Da antiga Capela muito pouco foi aproveitado: os guarda-corpos, a fachada frontal e o cruzeiro. Na época, o Templo adquiriu o aspecto que apresenta hoje, sendo sua invocação alterada, desde essa época o Padroeiro passou a ser São Pedro.
Com a morte de D. Júlia Campos, o Templo passou por mais um longo período de abandono, juntamente com as terras pertencentes ao Engenho do Santíssimo, que compreendia o total de propriedades dessa senhora. Por questões de herança e não apropriação das partes, a Igreja passou para o Instituto das Madres Concepcionistas do Ensino que recusaram o Templo por ter sido construído por uma cortesã e pela Casa Betânia, que ficou algum tempo com sua administração. O Templo foi finalmente entregue à Arquidiocese em 22 de junho de 1968. No poder da Mitra, ficou cuidando da Igreja uma família, sob a administração da Matriz de Coração Eucarístico de Jesus, que nos últimos 40 anos empreendeu reformas de manutenção.
Atualmente, a Igreja de São Pedro parece estar vencendo a luta contra sua deterioração, pois através de sucessivas reformas, pode-se dizer que está bem conservada, apresentando problemas apenas no forro do coro. A Igreja foi tombada pela Prefeitura do Rio de Janeiro em 1996, baseado no acordo do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, que tombou o Templo em 1980. Recentemente foram feitos vários reparos, com a reconstituição do forro do coro.
Fonte: Templos Católicos do Rio de Janeiro, Orlindo José de Carvalho – Manual, 2009