Rio de Janeiro

A história dos Quiosques no Rio antigo

Os Quiosques do Rio Antigo eram detestados pela elite carioca da época

No meio do caos das demolições conhecidas como “bota-abaixo”, as estalagens (pequenas casas térreas alinhadas umas ao lado das outras) e os cortiços, também chamados de habitações coletivas ou casas de cômodos (que consistiam em quartos pequenos e espaços compartilhados como lavatórios, pátios, corredores e banheiros), desapareceram, submersos no tumulto das demolições. Nas imagens capturadas pelas lentes do fotógrafo Marc Ferrez (1843-1923) no início do século XX, é possível contemplar como eram essas estruturas.

Foto: Augusto Malta – Quiosque em Copacabana – 1911 – Biblioteca Nacional
Foto: Augusto Malta – Quiosque em Copacabana – 1911 – Biblioteca Nacional

Além das estalagens e dos cortiços, outras construções também foram derrubadas, envoltas por nuvens de poeira. Os quiosques do rio antigo, que eram pequenas unidades comerciais, compartilharam o mesmo destino. Originalmente modelados seguindo o padrão europeu para venda de livros, jornais, revistas e cartões-postais, com o tempo, perderam gradualmente sua função original. Passaram a vender bebidas, salgados fritos e bilhetes de loteria. Sem condições adequadas de conservação ou higiene para os alimentos, nas bancas a gás eram preparadas e servidas fatias de batatas e sardinhas. As bebidas variavam desde o café, servido em tigelas, até o vinho, derramado em canecas.

Cigarros de palha e charutos se misturavam com doces e jornais. Os frequentadores habituais desses locais eram principalmente os estratos mais pobres da cidade, incluindo escravos libertos, engraxates, carregadores, vendedores ambulantes, cocheiros – todos vestidos com roupas gastas e muitas vezes descalços. Essa clientela e a falta de higiene no local eram incompatíveis com as reformas implementadas pela administração de Francisco Pereira Passos (1836-1913).

Frente à onda de modernização ligada aos princípios higienistas, a manutenção dos quiosques no coração do Rio de Janeiro tornou-se insustentável. No entanto, ao mesmo tempo em que essas estruturas eram demolidas, incentivava-se, na mesma região, a abertura de estabelecimentos que ofereceriam chá da tarde. Com essas medidas, Pereira Passos almejava que o centro da capital federal refletisse o ideal de progresso que ele buscava promover. A importância dessa área era ainda enfatizada pela presença de teatros líricos, que serviam como símbolos da cultura europeia no Distrito Federal.

A gestão do espaço público é uma tarefa particularmente complexa, representando uma arena onde diversos interesses, como transporte, comércio, limpeza e concessões, se convergem e, quando bem coordenados, podem contribuir positivamente para o desenvolvimento das cidades. No entanto, após a remoção dos cortiços e dos quiosques, surge a pergunta: para onde foram os moradores e clientes desses lugares? Muitos deles, sem dúvida, trocaram suas precárias moradias por outras em condições semelhantes, mas mais afastadas do centro da cidade, onde o progresso estava se consolidando. As classes desfavorecidas começaram a se instalar nas encostas dos numerosos morros da cidade, erguendo habitações rudimentares, geralmente construídas com madeira e cobertas com zinco.

Foto: Quiosque – Biblioteca Nacional

Isso foi evidente no Morro da Favela, situado próximo ao centro do Rio. Embora não tenha sido o primeiro local a ser ocupado de maneira improvisada, acabou emprestando seu nome, genericamente, a todas as áreas semelhantes. Atualmente, é conhecido por seu nome original: Providência. Na verdade, desde o final da década de 1910, essa questão se tornou relevante no contexto habitacional devido às mudanças que algumas áreas enfrentaram como resultado da pobreza, consolidando uma tendência que teve início durante as reformas urbanas daquela época.

Diante da crescente demanda por habitação, outros grupos migraram para locais próximos às linhas de trem, nos subúrbios. A disponibilidade de áreas não regulamentadas em termos de propriedade, combinada com a acessibilidade proporcionada pela rede ferroviária, levou ao surgimento de loteamentos ao longo das ferrovias. A cidade passou por uma reconfiguração de seu espaço urbano e demográfico.

Rogerio Silva

Rogério Silva é Jornalista, Historiador e Fotografo Profissional. Cursou Marketing Digital na Faculdade Castelo Branco, é morador da Zona Oeste do Rio de Janeiro.

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